Professor de boxe muda realidade de jovens através do esporte

  • Paulo Chancey Junior
  • 21/11/2017 07:59
  • Esporte

O esporte move milhões de pessoas ao redor do mundo. Uns trabalham duro e contam também com a sorte para se tornarem bem sucedidos e reconhecidos financeiramente. Outros tem talento, mas em muitos casos, não tem oportunidades. E quando esses possíveis atletas vem de regiões carentes, áreas consideradas de alta vulnerabilidade social? Aí é que entra a velha tese de que o esporte é uma ferramenta poderosa de inclusão social. Algumas pessoas trabalham para oferecer oportunidades, como o caso do professor de boxe, Manoel Messias de Souza.

Ainda jovem, mas com uma bagagem cheia de experiência de vida, o instrutor conheceu o boxe em 2005, quando acompanhou de perto um evento da modalidade e decidiu começar a treinar. Pouco tempo depois participou de algumas lutas em Alagoas, além de Sergipe e Paraíba, mas sentiu que poderia oferecer muito mais, compartilhando as técnicas. Em 2009 participou de um curso para ser instrutor e desde então, vem aumentando o número de alunos.

“Logo depois que fiz o curso, decidi começar a dar aula. Era muito simples, no prédio onde eu morava e não cobrava nada. O número de participantes foi aumentando e tive que alugar um local para atender essas pessoas”, afirmou.

Messias passou a ser reconhecido na modalidade em Alagoas. Além da iniciativa própria, passou a dar aulas em academias, mas ele não abriu mão de realizar um sonho dele e que também poderia ser de outras pessoas.

O projeto “Nocaute” foi criado justamente para tentar afastar crianças e jovens da ociosidade e consequentemente do mundo do crime. Além do espaço físico, no bairro da Serraria, Manoel Messias também leva o projeto para outros pontos da capital alagoana, a céu aberto.

Atualmente o projeto conta com 28 jovens, que segundo o instrutor, apresentam várias histórias de vida. “A ideia do projeto era antiga. Sempre quis fazer algo com jovens da periferia pra tentar tirá-los do caminho ruim e consegui isso através do boxe. Tenho alguns exemplos, como alunos que perderam o pai para o tráfico e a mãe que ficou presa durante 10 anos. Tenho outro caso que se afastaram da parte rui de uma torcida organizada. Eles mudaram e o boxe ajudou nesse processo”, comentou.

O trabalho que antes servia apenas para despertar o esporte na cabeça das crianças e jovens, acabou virando coisa série e seis deles já estão em ritmo amador, migrando para o profissional da modalidade, como por exemplo os boxers Leandro Monteiro, David Gomes, Gabriel Nunes, Anderson Santos, Maik Mendes e Keven Willian.

David Gomes lembrou que já conhecia o boxe, mas o projeto mudou a sua vida. “Conheci o projeto “Nocaute” um pouco antes de competir na Copa Maguila de Boxe Olímpico. Eu já era praticante de Boxe fazia alguns anos, mas sempre tive muitas dificuldades em continuar praticando, principalmente pelas dificuldades financeiras. Quando o professor Messias me deu a oportunidade de participar da iniciativa, foi um choque de realidade pra mim, que apesar de desejar competir, nunca tive uma preparação específica de atleta. O projeto mudou minha vida bastante. Me deu um objetivo de vida e uma meta profissional. Antes de competir, o único emprego que eu havia tido era trabalhando em um lava-jato, hoje tenho toda uma expectativa profissional e já tive sensações indescritíveis, como quando viajamos pra competir em outro Estado. Ficamos em um condomínio de classe alta em Aracaju, além de poder viver uma nova realidade. Acredito que acima de tudo foi uma inclusão social em todos os aspectos”, comemorou.

No caso de Gabriel Nunes, a prática do boxe veio justamente através do projeto de Manoel Messias. “No tempo não existia nem o Centro de Treinamento e nem nome de equipe. Treinava em um coreto no condomínio no qual Messias morava. Depois surgiu a “Boxe União” e o projeto “Nocaute”, mais desde sempre o professor falava que eu seria fruto de um projeto no qual ele tinha uma vontade enorme de realizar. Os anos foram passando e ele sempre puxando para perto. Um verdadeiro pai, e hoje, seis anos depois, sou fruto de um projeto, assim como também ajudo o Messias a fazer as outras crianças a terem essa realidade”, lembrou.

Se o boxe ainda não reconhecido e dos mais praticados em Alagoas, vem mantendo a sua tradição através das boas iniciativas, como o projeto de Manoel Messias, que vem mostrando exemplos e resultados, como ele mesmo explica.

“A semente foi plantada. Queremos promover o esporte, a inclusão social, as boas práticas. Os frutos estão aparecendo, sendo colhidos e a tendência é aumentar”, concluiu.