Dorival faz malabarismo para tirar do Flamengo perfil de ‘arame liso’

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  • 10/10/2018 06:14
  • Brasil e Mundo
Marcelo Theobald / Agência O Globo

Com três bolas nas mãos, Dorival aponta o dedo e canta a jogada em alto e bom som. O malabarismo resume o novo formato de treinamentos no Flamengo: abertos, barulhentos e de cobranças e elogios na mesma proporção. Literalmente, o novo treinador entra em campo para fazer os ajustes na reta final da temporada. Para, mostra como quer a jogada, corrige os atletas e pede o principal: “Faz o gol!”.

Além do foco no objetivo fim do ataque, como demonstrou ontem no Ninho do Urubu, o técnico tenta tirar do Flamengo a característica de “arame liso”. Que consiste em cercar o adversário com maior posse de bola e não conseguir penetrar para finalizar. Nesses momentos, o treinador não se furta a interromper a atividade e cobrar individualmente do atleta que fez o movimento errado.

- O Dorival nos cobra de uma forma que temos que fazer ou fazer. Treinamos e acaba virando automático - explicou Arão.

Um exemplo: enquanto o time atacava pela direita, e se deparava com forte marcação, obrigando-o a recuar a bola, Dorival apitou e perguntou: “O que a gente combinou?”. Em seguida, Cuéllar lembrou que a orientação era virar a bola para a passagem de Renê. Nesse movimento, Vitinho sairia da ponta e daria opção dentro da área ao lado de Uribe, tudo de forma harmônica, mas para pegar a defesa de surpresa e mais aberta.

A cobrança de Dorival Junior nos treinos de finalização e de ataque contra defesa também chamam atenção. Ao mesmo tempo que elogia os passes e tentativas de arremate a gol, reclama quando o atleta vai displicente para a bola. Berrio, ao tentar de calcanhar, ouviu: ‘Faz o simples!’.

É assim que, em dez jogos pela frente no Brasileiro, Dorival espera levar o Flamengo de volta ao topo.

Técnico força time a jogar para Uribe

Outras movimentações executadas por Dorival no Flamengo ilustram a sua tentativa de dar maior participação dos homens de frente nas jogadas. Em uma delas, o treinador obriga os jogadores a fazerem uma primeira "parede", como chama, ou seja, um pivô, para progredir em direção à área do adversário. O papel é normalmente desempenhado por Uribe, mas Paquetá, bom na função, também a exerce.

A orientação visa dar tempo para os pontas passarem e os homens de meio-campo se aproximarem. A repetição de movimentos faz Uribe entrar mais no jogo, e a alternância com Paquetá dá ao colombiano momentos de liberdade para aparecer para finalizar mais vezes. Dorival, aliás, deixa claro que vai dar sequência ao colombiano e deixar Dourado e Lincoln como opções.

Outra questão que fica claro é a subida de produção de Lucas Paquetá atuando mais adiantado, mesmo sem perder funções defensivas. Dorival usou o meia como exemplo tático ao pedir para que ele executasse novamente um movimento de recomposição. E avisou: "Não importa quem seja, tem que fechar o espaço”. Paquetá marcou dois gols contra o Corinthians e, com menos carga de jogos, voltou a subir de produção.

Dorival também recuperou minimamente Vitinho, um dos mais cobrados durante os treinamentos. Não apenas nos momentos de ataque, como também na hora de fazer a recomposição.

Treinos abertos voltam após anos no clube

É difícil recordar a última vez que um treinador do Flamengo abriu treinamentos e escalou o time sem qualquer mistério. É o que Dorival Junior tem feito desde que voltou ao clube. O estilo participativo e falador não impede o técnico de criar situações sigilosas de jogo. Mesmo que as repita abertamente em algumas atividades.

Em poucos dias, deixou claro para torcida, imprensa e para os próprios jogadores quais os métodos de trabalho e as escolhas para os jogos. Diferentemente do que faziam os técnico anteriores.

Desde Zé Ricardo, passando por Rueda, Cargpegiani e Barbieri, a tônica era esconder o jogo e as formações, muitas vezes descobertas por jornalistas. A estratégia de Dorival é apostar nas peças e lhes dar confiança, sem alternância por setores.

A estratégia claramente dá mais exposição ao elenco na hora de dar respostas ás cobranças da comissão técnica e da própria torcida. No entanto, Dorival se mostra preocupado em dar incentivo aos jogadores e elogiar cada tomada de decisão correta. Desta forma, agrada ao grupo e aos torcedores. Até o momento, a opção tem dado resultado.