Enfrentando adversários difíceis, Brasil acumula derrotas e mostra pouco repertório

  • ExtraOnline
  • 10/03/2019 19:25
  • Brasil e Mundo
Douglas DeFelice/Reuters/05.03.2019

A três meses da estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo feminina da França, os resultados recentes na preparação geram um alerta. Nas últimas dez partidas, foram oito derrotas e duas vitórias. Mas o sinal amarelo vai além dos placares e envolve a falta de repertório e organização tática.

Desde o título da Copa América, em abril de 2018, a CBF optou por colocar as meninas diante de adversários que estão acima no Ranking da Fifa — e essa lista aumenta gradualmente, já que o Brasil está em décimo, pior colocação na história. Independentemente, a sensação é que o time de Vadão não está em curva ascendente.

— Há muitas coisas que não fazem sentido. Você não vê um destaque. A Marta fica prejudicada porque volta muito, não tem transição. Se comparar com o desempenho da seleção com o próprio Vadão, em 2015, 2016 e agora, é impressionante o desnível. Não tem setor que funcione — avalia a jornalista Renata Mendonça, do site Dibradoras, especializado em futebol feminino, lembrando a trajetória que teve queda nas oitavas de final da Copa-2015 e quarto lugar na Rio-2016.

Nos dez jogos desde o sucesso na Copa América, justamente a competição que deu vaga no Mundial, foram pelo menos duas partidas contra Estados Unidos, Inglaterra e Japão. As três seleções estiveram ao lado do Brasil no Torneio She Believes, competição concluída na semana passada: o time de Vadão perdeu os três jogos.

Embora o sistema do futebol feminino no Brasil ainda tenha problemas estruturais — apesar das evoluções recentes, como as Séries A1 e A2 do Brasileiro —, é possível destacar quem está no topo da pirâmide: as jogadoras da seleção. A maioria atua fora do Brasil. Na última lista, 17 das 23 convocadas. Aí, a expectativa cresce. Só que o resultado ainda não veio.

— Estamos jogando contra as melhores. Se quiséssemos maquiar resultados, marcaríamos amistosos fáceis. Mas jogar contra seleções abaixo de nós não construiria nada — argumenta Marco Aurélio Cunha, coordenador do futebol feminino da CBF.

Na Copa do Mundo, o Brasil está no grupo de Austrália, Itália e Jamaica.

Grande preocupação no ataque

Em um cenário no qual o ataque da seleção feminina já preocupa por ter feito oito gols nos últimos dez jogos, a lesão sofrida pela atacante Bia Zaneratto, titular do time, é uma dor de cabeça a mais na preparação para o Mundial. Ela fraturou a fíbula e virou dúvida para a lista da que estarão na França.

Os problemas médicos recentes do Brasil vão ainda além. Na zaga, Rafaelle, uma das melhores do mundo na posição, ainda se recupera de lesão ligamentar no joelho. O mesmo vale para Bruna Benites. A goleira Bárbara, por sua vez, sofreu fratura no polegar. Outras jogadoras, como Cristiane, Andressinha e Fabiana tiveram lesões de menor gravidade.

— O Vadão ou qualquer outro teria dificuldade, pelas circunstâncias. Estamos passando por situações de extrema dificuldade para dar cancha a essas meninas, cobrar respostas e tentar montar uma equipe — ponderou Marco Aurélio Cunha.

Herança histórica ainda pesa

Ao mesmo tempo em que há a crença de que a seleção feminina tem condições de mostrar mais organização, não dá para esquecer que, na comparação com o masculino, a modalidade ainda sofre com uma herança história de falta de estrutura na formação de jogadoras. No Brasil, por exemplo, só agora em 2019 é que haverá o primeiro Brasileiro Sub-18.

— Não temos base. As jogadoras que chegam à seleção chegam sem estrutura física. Há uma defasagem. A questão tática influencia muito. Como não tiveram desde pequenas, demoram mais a pegar — cita Cintia Barlem, comentarista de futebol feminino no Sportv.

Técnicos anteriores a Vadão na seleção tiveram o mesmo problema. Isso fica mais flagrante quando é preciso usar jogadoras jovens.

— A Emily Lima falou isso. Muitas vezes tinha que parar para abordar conceitos de transição. Não dá para ignorar a história. O futebol feminino foi proibido por 40 anos, a base está se estruturando agora em clubes. A maioria já foi alçada aos times principais aos 15, 16 anos. Isso acaba estourando na seleção, porque chegam defasadas — ponderou a jornalista Renata Mendonça.