Promessa do Taekwondo, Edival Marques supera falta de estrutura na juventude e críticas

  • ExtraOnline
  • 26/05/2019 20:05
  • Brasil e Mundo
Roberto / Inovafoto/COB

Sem luxo ou infraestrutura, Edival Marques iniciou a busca pelo sucesso no taekwondo. As dificuldades quase atrapalharam a trajetória do jovem de João Pessoa (PB), de família humilde, filho de uma dona de casa e de um funcionário de recursos humanos. Os primeiros chutes na modalidade foram aos 6 anos, após o convite do pai de um amigo, que se tornou seu técnico por 17 anos. Naquela época, o obstáculo foi a falta de colete eletrônico, importante para detectar os golpes e obrigatório em competições. Era como “treinar no escuro”.

O outro foi na transição para o sênior. Netinho, como é conhecido, ouviu: “Você nunca vai vingar no adulto”. Apesar de quase desistir, lutou contra as críticas, entrou na seleção principal e, hoje, é uma das esperanças do Brasil por medalha na categoria até 68kg nos Jogos de Tóquio-2020.

 falta de material adequado não prejudicou Marques em ação porque ele tinha a técnica bem apurada. Isso o fez superar os rivais e ser campeão do Sul-Americano de 2013, e ouro no Mundial juvenil e nas Olimpíadas da Juventude, ambos em 2014. Tinha apenas 16 anos e já acumulava os melhores títulos para um promissor atleta. Foi nessa transição que Netinho, hoje com 21 anos, passou a ser pressionado e comparado com antigas promessas do taekwondo.

— Falavam dos atletas que foram muito bons no juvenil e que no adulto não conseguiram nada. Escutava muito isso, que eu não vingaria. Isso me atrapalhou um pouco — relembra.

Mudança para Brasília

As críticas se refletiram nas seletivas. O atleta bateu na trave duas vezes para entrar no adulto e chegou a avisar ao pai que “não daria mais”. A última e decisiva cartada aconteceu quando Netinho deixou a Paraíba e se mudou para Brasília. Foi com a ajuda do “segundo pai”, Guilherme Dias, que as portas voltaram a se abrir. Foi acolhido pelo lutador da seleção, passou a ter treinamento adequado e estrutura suficiente para descobrir ainda mais o seu potencial.

Ficou tão agradecido pelo que recebeu que desistiu de tentar uma vaga na Rio-2016 para ajudar Guilherme, titular na seleção, e a namorada, Talisca Reis.

— Sou muito grato até hoje (ao Guilherme). Se não tivesse ido e sido acolhido daquela maneira, não sei se estaria aonde estou. Peguei todas as críticas e transformei em motivação — diz.

Em 2016, teve a chance de participar do Vivência Olímpica, projeto do Comitê Olímpico do Brasil para novos talentos. Ficou encantado porque foi tratado como igual por todos os atletas que sempre teve como ídolos e via na TV. A seleção brasileira de vôlei, alguns campeões e medalhistas olímpicos comendo ao seu lado no refeitório... Momentos que ficaram na sua memória e o ajudaram.

— Aquilo me surpreendeu muito, e de certa forma me ajudou, porque na próxima não vou ficar tão assustado. Eles me fizeram me sentir um deles também — diz.

Nordestino com orgulho, Netinho nunca sentiu o preconceito por sua origem. Os amigos brincavam com o seu sotaque carregado, mas sempre de forma saudável. Assim como o seu relacionamento com Talisca, atleta da categoria até 49 kg. Entre idas e vindas, o casal está junto há três anos. Um namoro em que a diferença de idade – 21 e 29 anos — é bem grande. A jovem sempre teve preocupação porque teriam que enfrentar críticas por ela ser mais velha.

— No começo, ela tocava mais no assunto. Para mim, não tinha nada demais. Por ser mais experiente, ela dizia que eu tinha que curtir muito minha vida, pois eu era muito novo. Mas queria mesmo estar com ela. Sou muito feliz — conta.

Sorte no amor e no jogo também. Atualmente em 13º no ranking, ele substitui Diogo Silva, ouro no Pan-2007 na categoria. Chegou a disputar a titularidade com o paulista, treinou junto e, hoje, o tem como um dos técnicos na seleção brasileira:

— Ele é um cara que sempre me imaginei no lugar. As vitórias dele me inspiraram. Deixou um legado pesado e sinto que preciso manter essa tradição de vitórias históricas. Faço de tudo para deixar algo parecido ou melhor do que ele fez.